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Considerações sobre tecnologias aplicadas a diferentes acontecimentos no espaço

Written by Fernanda de Silos Mendes | 26/mai/2021 13:48:20

Olhai o Céu!

No dia 21 de Dezembro de 2020, no solstício de verão em nosso hemisfério, um encontro raro aconteceu nos Céus: os planetas Júpiter e Saturno ficaram tão próximos e tão perfeitamente alinhados que, à perspectiva da Terra, pareciam um único planeta, maior e mais brilhante, oferecendo ao imaginário humano toda a sorte de pensamentos mágicos. Essa perfeita convergência, com tanta proximidade entre os dois corpos celestes, aconteceu pela última vez há 400 anos (sendo há 800 anos à noite, como tivemos a sorte de tê-lo visto do Brasil).

Os astrônomos apelidaram este encontro perfeito de “Beijo de Natal”, e naquela noite, certamente, vibrações e desejos de milhões de pessoas atentas ao espetáculo, foram lançados ao Universo.

Assistir à harmônica orquestração dos planetas e também a outros achados recentes, como a primeira imagem real de um buraco negro supermassivo capturada pela equipe do Event Horizon Telescope (EHT), em 2019, tem-nos sido brindado pela Ciência da Astronomia, por meio do trabalho de competentes estudiosos e pesquisadores, apoiados por sofisticadas tecnologias.

No dia 6 de Dezembro de 2020, o Hayabusa 2 (sonda espacial da Jaxa - Japan Aerospace Exploration Agency), mais uma vez, cumpriu sua missão com excelência quando trouxe para a Terra amostras do asteroide Ryugu, que orbita a 300 milhões de quilômetros de nosso planeta. Seu objetivo com a coleta destas amostras será o de pesquisar a origem e evolução da terra, mar, e a vida como a conhecemos há 4.5 bilhões de anos, com a exploração destes asteroides chamados C-type, ricos em água e matéria orgânica.

Em um debate promovido pela Japan House de São Paulo, na Semana da Astronomia – 04 a 09 de Abril - deste ano, aprendi com o astrônomo Fernando Roig, do Observatório Nacional, que os asteroides carregam informações valiosas sobre o que havia na nebulosa primordial a partir da qual se formou o sistema solar. Roig já prevê que, no futuro, devido à sua composição abundante em minerais, poderá haver a exploração comercial de asteroides como fontes de minérios, como insumo na fabricação de microchips e materiais supercondutores, por exemplo.

O sucesso de missões exploratórias e que demandam investimentos altíssimos como a missão do Hayabusa dependem da colaboração de tecnologias aplicadas a diferentes áreas do conhecimento. A computação de alto desempenho (os supercomputadores) também é uma ferramenta importantíssima em projetos como este. Ainda segundo Fernando Roig, a simulação de modelos numéricos de hidrodinâmica, por exemplo, provavelmente ajudou a prever o comportamento do fluxo dos fragmentos do asteroide quando o mecanismo do coletor de amostras (“sampler horn”) disparasse o projétil com pressão suficiente para provocar uma cratera artificial na superfície do solo. 

O momento do impacto, certamente, causaria o deslocamento de pequenos fragmentos e seria extremamente importante antecipar a compreensão do comportamento destes fragmentos para que não atingissem a própria sonda. Simulações como esta, com alta precisão, e que são executadas ainda na fase de planejamento da missão, somente são possíveis em computadores com grande capacidade computacional, como os Supercomputadores. 

Inclusive, os desdobramentos e o legado das pesquisas da NEC, para a área de Satélites e Sondas espaciais são imensos. Em função deste investimento, satélites, cada vez mais modernos, são aplicados em diferentes iniciativas, como o Monitoramento de Desastres Naturais, Agricultura, e Infraestrutura Urbana. É possível enviar desde o espaço dados de observação sobre a Terra com maiores resolução e desempenho, contribuindo com informações importantes que, em conjunto com outras variáveis, conseguem permitir a otimização de soluções que visam a redução de riscos de desastres naturais ou a aplicação da Inteligência Artificial na agricultura, por exemplo. 

Há 400 anos, os tripulantes desta grande nave Gaia, testemunharam o encontro de Zeus e Kronos nos Céus. Hoje, 400 anos depois, este reencontro marca um novo salto com novas descobertas e novos conhecimentos, inaugurando uma nova Era para todos nós, seus descendentes.