Por Clezia Gomes
Um ano após o anúncio da parceria estratégica, na qual a NTT Docomo adquiriu 5% em ações da NEC, as gigantes japonesas já contam com bons resultados. Têm estruturas de P&D sinérgicas e vêm participando de projetos Open RAN e de criação de aplicativos customizados para diferentes indústrias. O próximo passo é ampliar a colaboração para áreas, como marketing e comercial.
O mundo já vê os frutos da implementação do 5G em países onde a tecnologia já foi implementada, como no Japão. No painel No painel do NEC Visionary Week, “A visão da NTT e da NEC sobre o futuro da rede avançada e o mundo que a cerca”, por exemplo, os executivos Akira Shimada, vice-presidente sênior e CFO da NTT, e Takayuki Morita, presidente e CEO da NEC, contaram ao moderador Kenji Nonaka, sócio sênior da Mckinsey & Company, sobre como o avanço da rede de quinta geração está mudando o mercado global e os resultados já obtidos com a aliança que firmaram em 2020 em prol da atual revolução digital, que começa a se preparar para dar os primeiros passos rumo ao 6G.
Um ano depois do anúncio da aliança para desenvolverem, juntas, tecnologias wireless e ópticas no ambiente 5G e Open RAN, visando contribuir para aumentar a competitividade industrial japonesa e garantir uma infraestrutura de comunicação segura e confiável para todo o mundo, os principais executivos das duas companhias se reuniram no maior evento anual da NEC e deixaram claro que têm muitas razões para comemorar. “Nossa parceria é muito benéfica para ambas as partes, porque inclui colaboração em diversas áreas, como comunicações espacial e submarina, além de tecnologias móveis para O-RAN (redes de rádio acesso abertas)”, afirmou Shimada.
Segundo o principal executivo da NTT, entre os bons resultados alcançados pode-se celebrar a evolução do desenvolvimento de sistemas de arquiteturas abertas para as redes. “A NEC e a NTT DOCOMO estão desenvolvendo, por exemplo, um software chamado RAN Intelligent Controller, que controlará automaticamente os sistemas de Open RAN, quando estiverem virtuais. Estamos evoluindo também com a iniciativa IOWN, que auxiliará na redução de custos, que inclui o desenvolvimento de chips fotônicos com controles eletrônicos, para viabilizarem a computação óptica, ao serem transformados em hardwares, por meio de uma abordagem de caixa branca”, detalha Shimada.
As duas empresas possuem também projetos de desenvolvimento de aplicativos para uma série de outros campos, vislumbrando resultados daqui há cinco ou seis anos - inclusive, é claro, para o 6G. Shimada reforçou ainda que a parceria com a NEC se estenderá a outras áreas, como marketing e comercial.
Takayuki Morita também se mostrou muito empolgado com as conquistas e enfatizou que o campo de colaboração é realmente muito amplo, pois as empresas estão trabalhando para adiantar às futuras necessidades dos clientes, crescendo juntas no mercado. Comprovação disto é a criação de uma abrangente estrutura de Pesquisa & Desenvolvimento conjunta, que visa resultados de curto prazo, como DSPs ópticos e a plataforma O-RAN, e outros de médio e longo prazos, como 6G, novos chips fotônicos e sistemas satélites e submarinos.
“Todas as nossas iniciativas estão progredindo bem, em especial um projeto de desenvolvimento conjunto de aplicações automotivas em 5G na Alemanha, para o qual foi fundamental utilizarmos a expertise da NEC e da NTT no setor e por termos juntos gerado um ambiente colaborativo, no qual as equipes trabalham de forma sinérgica, mas conservando certa independência para criar, se arriscar e testar. Isto porque acreditamos que só assim melhoraremos o time-to-market, ou seja, agilizaremos a chegada dos produtos e serviços ao mercado”, disse o CEO da NEC.
Porém, Morita ressaltou que a maior evolução deste projeto depende ainda da adesão de mais membros da cadeia automotiva alemã, em colaboração com as duas companhias japonesas. Comentário que foi imediatamente complementado por Shimada: “para este projeto, nós criamos um laboratório conjunto em Munique para testar a aplicação, pois temos feito testes constantes de aplicativos para diferentes indústrias no mundo”.
As expectativas de novos serviços mais sofisticados e disruptivos com a chegada do 5G são enormes, porém o potencial do novo espectro de banda larga ainda está sendo utilizado muito superficialmente. “Os serviços oferecidos com 5G até o momento são exatamente os mesmos que eram oferecidos com o 4G. Por isso, acredito que os reais diferenciais do 5G ainda estão por aparecer”, afirma Akira Shimada.
Para Takayuki Morita, os projetos de redes abertas estão evoluindo gradativamente, com iniciativas com a NeutrORAN no Reino Unido, que envolve os governos japonês e inglês trabalhando juntos para testar conexões em sistemas Open RAN, inclusive de interoperabilidade. Outros bons exemplos são o projeto da Vodafone de desenvolvimento de soluções e da NTT DOCOMO no Japão. “O mundo das operadoras de telecomunicações já está anunciando planos concretos para uso comercial do 5G em redes abertas. A Deutsche Telecom, por exemplo, já adotou nossa solução O-RAN e estou empolgado com a NEC ter sido escolhida pela Vodafone para integrar seu projeto comercial. Por este motivo, acredito que, em breve, as redes avançadas abertas serão amplamente utilizadas”, acredita o CEO da NEC.
Porém, para que se tornem realidade, as redes Open RAN requerem mais opções de fornecedores, ou seja, diversidade de opções tecnológicas e preços mais competitivos, o que torna muito difícil o atendimento das demandas de seus projetos por vendors verticais únicos, como ocorre hoje. Esta nova cadeia de valor deve ser capaz de oferecer sistemas compatíveis para viabilizar conexões massivas nos principais acessos, com alta qualidade de desempenho, menor latência, mais escalabilidade e velocidade, o que exigirá mais colaboração entre estes players diversos para criar soluções, inovar e implementar. “Ciente desta necessidade, a DOCOMO já vem atuando com uma ampla cadeia de fornecedores O-RAN, que colaboram entre si e inclui a NEC, para oferecer serviços em redes abertas comercialmente, de modo a prover novos serviços, com boa performance e agilidade aos usuários”, comentou Shimada.
Mas, é claro, as operadoras dos mais variados países encontram-se hoje em diferentes graus de maturidade em relação ao 5G e as redes abertas. As empresas de telecomunicações avaliam o 5G e o Open RAN de acordo com a realidade dos diferentes mercados, perspectivas de crescimento, competitividade e estruturas operacionais. “A Telefónica é uma grande operadora e está ativamente investindo nas redes abertas. Outras operadoras médias, por sua vez, veem que os serviços aos consumidores e funções atendem às expectativas, mas ainda acham os custos incompatíveis em relação aos resultados de suas operações, o que ainda inviabiliza que invistam imediatamente nesta nova forma de comercialização”, explicou Morita.
Segundo o CEO da NEC, o fato é que a maior expansão das redes abertas depende ainda da superação de grandes desafios, como foi trazido no evento são eles:
“Na questão da segurança, estamos trabalhando com a NTT a curto prazo em um tipo de criptografia especial e a longo prazo com o uso da computação quântica, que tende a se tornar referência no mercado. Para reduzir o TCO, penso que podemos utilizar tecnologia fotônica para reduzir o consumo do 5G, que é um custo significativo, já que consumirá três vezes mais energia que o 4G, comprometendo cerca de um quarto do TCO”, informa Morita.
Em função da dedicação de governos e indústria para entender os desafios do 5G e das redes abertas, a previsão é de que, por volta de 2023, haverá um ambiente efetivamente propício para que o setor de telecomunicações e os consumidores de fato colham os reais benefícios do 5G, tendo acesso a soluções e serviços disruptivos.